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Cultura |
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A Semana de Arte Moderna
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Foi durante a Primeira República, que surgiu no Brasil o
modernismo, um movimento de renovação cultural inspirado
nos movimentos artísticos de vanguarda europeia e que se
fez sentir em todas as expressões da cultura brasileira.
Marco do modernismo no Brasil, a Semana de Arte Moderna
de 1922, ocorreu nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro.
Quando um grupo de artistas plásticos e intelectuais
reuniu-se no Teatro Municipal de São Paulo, para
apresentar recitais de música e poesia, palestras e
danças, exposições de pintura, escultura e
arquitetura.
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Capa do catálogo da exposição desenhada por Di
Cavalcanti. |
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O grupo composto por intelectuais do Rio de Janeiro e
São Paulo propunham uma nova estética, revolucionando
todas as formas de expressão artísticas, rompendo com a
tradição acadêmica e as influências da cultura europeia,
principalmente a francesa, e inspirando-se nas raízes
culturais brasileiras, com total liberdade de expressão.
As inovações e ousadias do grupo chocaram o público que
reagiu com vaias e insultos, e recebeu duras críticas da
imprensa. Apesar das vaias e das críticas, com o tempo,
o movimento provocou importantes mudanças no cenário da
arte brasileira.
Participaram da Semana de Arte Moderna, os escritores Mário de
Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Manuel
Bandeira, Agenor Barbosa, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado
e Sérgio Milliet; os artistas plásticos Brecheret, Anita
Malfatti, Di Cavalcanti e Vicente do Rêgo Monteiro; os músicos
Heitor Villa-Lobos e Guiomar Novaes, entre outros.
Antes mesmo da Semana de 22, alguns artistas plásticos e
intelectuais brasileiros, influenciados pelos movimentos
vanguardistas europeus, como o cubismo, dadaísmo,
expressionismo, futurismo, surrealismo etc. já sugeriam novas
concepções artísticas para a pintura e a escultura no país.
Oswald de Andrade desde 1912, já defendia as ideias contidas
no Manifesto Futurista, do poeta italiano de vanguarda Filippo
Marinetti, que por meio de seus manifestos divulgava a nova
linguagem. Em 1913, Lasar Segall, pintor lituano, realizou uma
exposição na cidade de São Paulo e em Campinas, apresentando
as novas tendências da pintura moderna, no Brasil.
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A pintora Anita Malfatti, que tivera seu primeiro
contato com a arte moderna em Berlim, onde estudara,
realizou em 1917, a primeira exposição “moderna” em São
Paulo, com pinturas, aquarelas, desenhos, caricaturas e
gravuras. Seus retratos deformados e de cores berrantes
provocaram uma verdadeira revolução entre os artistas e
intelectuais de São Paulo. A exposição recebeu duras
críticas, inclusive de Monteiro Lobato, que qualificou
seus trabalhos como uma “nova espécie de caricatura”.
Vários intelectuais saíram em defesa da artista, entre
eles Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de
Almeida, e o artista Di Cavalcanti. As críticas acabaram
funcionando como estímulo à realização da Semana de Arte
Moderna. |
O Homem Amarelo de Anita Malfatti
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A Semana de 22
A abertura do evento, no dia 13, foi feita por Graça Aranha
com a conferência “A Emoção Estética na Arte Moderna”, que
atacava o conservadorismo e o academicismo da arte brasileira.
Seguiram-se leituras de poemas. Manuel Bandeira leu o seu
ensaio A Escrava que não Era Isaura na escadaria do teatro.
Apresentaram-se a pianista Guiomar Novaes e o maestro e
compositor Heitor Villa-Lobos, que não foi poupado de vaias,
ao subir no palco de casaca e descalço para reger a orquestra.
Na segunda noite, enquanto Menotti del Pichia expunha a
plataforma geral do movimento, Mário de Andrade declamou
“Paulicéia Desvairada” e Ronald de Carvalho, “Os sapos”, de
Manuel Bandeira, que fazia uma sátira do Parnasianismo. O
público reagiu com vaias, latidos, miados, relinchos. O
tumulto foi tanto que as galerias do teatro tiveram que ser
fechadas.
A terceira noite foi mais tranquila, pois foi reservada
somente à música.
Literatura
Mário de Andrade e Oswald de Andrade foram as maiores
expressões da primeira fase do movimento modernista.
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Mário de Andrade (1893-1945), poeta e romancista, professor de
música, crítico de arte e um dos principais teóricos do
movimento modernista. Sua primeira obra modernista, “Paulicéia
Desvairada”, publicada em 1922, apresenta alguns princípios
como a liberdade formal, o uso de expressões populares, busca
de uma gramática brasileira, não portuguesa, e o
aprofundamento da análise da realidade nacional, marcada pelo
passado colonial e pela mistura de raças. |
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Oswald de Andrade (1890-1954), romancista, poeta, dramaturgo e
ensaísta, uma das figuras mais importantes do modernismo. Em
1928, ao lado de Tarsila do Amaral, lançou o Movimento
Antropofágico, que propunha a “devoração cultural das técnicas
importadas para reelaborá-las com autonomia, convertendo-as em
produtos de exportação”. |
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Outros intelectuais participantes da Semana de 22, como
Menotti del Picchia e Plínio Salgado seguiam rumos diversos.
Com tendências nacionalistas e conservadoras, eles fundaram o
Movimento Verde-amarelismo.
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Artes
Plásticas
Emiliano Di Cavalcanti, um dos idealizadores da Semana
de 22, e o grupo de pintores modernistas, foram
profundamente influenciados pelo cubismo. Movimento
artístico que procurava decompor as imagens em figuras
geométricas. Seus maiores representantes foram o
espanhol Pablo Picasso (1881-1973) e o francês Georges
Braque (1882-1963). Essa estética vinha sendo
desenvolvida por vários artistas europeus e no Brasil a
temática (mulatas, negros, índios) assumiu também uma
forma cubista. |
Pierrete - 1922 |
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A pintora Tarsila do Amaral, não participou da Semana de
Arte Moderna, mas nasceu desse movimento. Depois de uma
viagem a Minas Gerais, realizada em 1924, na companhia
de artistas modernistas, criou um estilo próprio,
geométrico na forma e caipira na temática e no uso das
cores rosa e azul. A partir de 1928, os quadros da
pintora começaram a apresentar figuras desproporcionais,
pintadas em cores fortes. A tela Abaporu, denominação
indígena para antropófago, data dessa nova fase. |
Abaporu |
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Música
Maestro e compositor, Heitor Villa-Lobos (1887-1959),
participou da Semana de 22, onde apresentou “Danças
Características Africanas” e “Impressões da Vida
Mundana”, entre outras obras. Após realizar uma viagem
ao Norte e Nordeste do país, onde pesquisou cantigas
folclóricas para reutilizá-las em suas peças musicais:
choros, sinfonias, coros e músicas de câmara.
Villa-Lobos ganhou projeção na Europa e nos Estados
Unidos, onde regeu algumas de suas composições. No
Brasil, o músico contribuiu para a renovação do ensino
musical, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
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Em maio de 1922 o mesmo grupo se reuniu para publicar a
revista modernista Klaxon, para sistematizar e divulgar
as ideias modernistas que era realmente revolucionária,
não só pelo conteúdo de seus textos, as imagens e a
diagramação, mas também porque nela havia a contribuição
de artistas estrangeiros. A revista teve curta duração,
seu último número saiu em janeiro de 1923. |
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Outro importante acontecimento, fruto da Semana 22, foi
o Manifesto Antropofágico escrito por Oswald de Andrade,
em 1928, incitando os artistas, como os antigos
comedores de gente, a alimentarem-se de todas as
influências possíveis, desde a arte dos índios tupis até
a dos modernos europeus. Com isso, ele queria que os
artistas devorassem e digerissem todas as formas já
experimentadas para depois criarem uma nova, tipicamente
brasileira. “Só a antropofagia nos une...” é assim que
começa o manifesto. |
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A Semana de Arte Moderna, significou o marco inicial do
movimento modernista no Brasil. Embora influenciado pelas
vanguardas europeias, o movimento estimulou escritores e
artistas a criarem uma cultura com características nacionais,
valorizando as raízes brasileiras.
Fontes consultadas:
·
Arte no Brasil - Fascículo 7, Ed. Nova Cultural, São Paulo,
1986.
·
Saga - A Grande História do Brasil, Ed. Abril Cultural, São
Paulo, 1981.
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