A
Tunísia vem enfrentando desde dezembro de
2010 uma série de protestos contra o
desemprego e a corrupção, a chamada
“Revolução de Jasmim” que levou a renúncia
do presidente Zine Al-Abidine Ben Ali.
Após, um mês de violentas
manifestações populares contra o
governo, Ben Ali que estava no poder
há 23 anos renunciou em 14 de
janeiro.
Embora governado com mão de ferro por
Ben Ali desde 1987, um dos governos mais
corruptos e repressivos de toda a
região, o país era visto como um exemplo
de estabilidade e relativa prosperidade
no mundo árabe.
As manifestações populares contra o
desemprego e a corrupção do governo da
Tunísia começaram no fim do ano passado
e se tornaram nacionais depois da morte
de Mohamed Bouazizi.
Mohamed Bouazizi um analista em
informática de 26 anos, era vendedor
ambulante, na cidade de Sidi-Bouzid. A
polícia o impediu de vender frutas e
vegetais em uma barraca de rua, sem
licença e confiscou sua mercadoria.
Impedido de fazer uma reclamação às
autoridades, Bouazizi ateou fogo no
próprio corpo, morrendo dias depois. Sua
morte provocou uma onda de protestos
contra a inflação e o desemprego na
região, que é uma das mais pobres do
país e que tem uma economia baseada na
agricultura.
As manifestações espalharam-se pelo
país, em cidades do interior como Kasserine, Thala, Regueb e Jabeniana e
chegaram à capital Túnis. Milhares de
manifestantes entraram em confrontos
violentos com a polícia, reivindicando
também mudanças políticas. O governo
reagiu com violência às manifestações e
os protestos aumentaram.
Na Tunísia a internet e as redes sociais
ajudaram a acelerar a revolução, pois as
manifestações não tiveram uma
coordenação única. Foram convocadas,
pela internet, por estudantes, grupos de
donas de casa, associações de moradores,
etc. o que surpreendeu o governo. A
reação do governo aos protestos foi
violenta, causando dezenas de mortes
desde o início dos conflitos.
Como outras nações árabes, a Tunísia foi
no passado domínio otomano, colônia europeia e, depois, ditadura. Ex-colônia
francesa tornou-se independente da
França em 1956. Foi governada por Habib
Bourguiba até 1987, quando Ben Ali tomou
o poder num golpe de Estado. Em 2009,
foi reeleito com quase 90% dos votos
válidos para um mandato de mais cinco
anos.
Embora o país tenha um dos melhores
índices de desenvolvimento humano do
continente africano e uma forte
economia, há fortes restrições das
liberdades políticas. A insatisfação com
o desemprego, muitos jovens formados em
universidades não conseguem emprego,
violência policial, excessos da classe
dominante e um governo corrupto levaram
à onda de protestos.
A reação do presidente Ben Ali
inicialmente foi negar que a polícia
tenha reagido com força exagerada,
afirmando que ela protegia interesses
públicos contra um pequeno número de
“terroristas”. Ainda na tentativa de
esvaziar os protestos todas as
universidades e escolas do país foram
fechadas.
Diante da pressão o presidente Ben Ali
demitiu seu ministro do Interior, em 12
de janeiro e ordenou a liberação de
todos os detidos durante os protestos.
Criou um comitê especial para investigar
a corrupção e prometeu atacar a raiz do
problema do desemprego, com a criação de
300 mil empregos. Mas, os protestos
continuaram apesar do toque de recolher
e chegaram ao centro da capital Túnis em
13 de janeiro.
Ben Ali prometeu então combater a alta
de preço dos alimentos, permitir a
liberdade de imprensa e internet e
“aprofundar a democracia e revitalizar o
pluralismo”. Ele também disse que não
mudaria a constituição para permitir a
própria reeleição em 2014.
Em 14 de janeiro, Ben Ali anunciou a
dissolução do Parlamento e do governo e
convocou eleições parlamentares dentro
de seis meses, antes de declarar um
estado de emergência. O toque de
recolher entre 18h e 06h foi ampliado a
todo o país, proibidas aglomerações de
mais de três pessoas e as Forças de
Segurança receberam permissão para
atirar em qualquer um que desobedecesse
as suas ordens.
Após a renúncia Ben Ali deixou o país
junto com a família, rumo à Arábia
Saudita. No seu lugar, assumiu o
primeiro-ministro Mohammed Ghannouchi.
As medidas não surtiram efeito, pois na
prática, o regime foi mantido, e os
manifestantes continuaram os protestos
em frente ao Palácio do Governo.
Exigindo a saída de todos os ministros
ligados ao ex-presidente, que ainda
ocupavam cargos-chave no governo de
transição.
Mohammed Ghannouchi anunciou a formação
de um novo governo de união nacional
encarregado de gerenciar a transição até
a organização de eleições presidenciais
e legislativas marcadas para 15 de
julho, prometendo respeitar a
Constituição.
A pressão dos manifestantes continuou e
o primeiro-ministro renunciou em 27 de
fevereiro, enquanto forças de segurança
entraram em confronto com manifestantes
que exigiam a saída de alguns ministros
do governo interino.
O ministro da Justiça da Tunísia, Lazhar
Karoui Chebbi, afirmou em 26 de janeiro
que o país preparou uma ordem de
detenção internacional contra o
presidente deposto, Zine Al-Abidine Ben
Ali, e sua esposa, Leila Trabelsi. Em
entrevista coletiva, o ministro indicou
que a justiça do país está à procura de
Ben Ali, foragido na Arábia Saudita, por
"aquisição ilegal de bens", além de
"transferência ilícita de divisas ao
exterior”.
As manifestações iniciadas na Tunísia
espalharam-se pelo Oriente Médio e
África como na Argélia, Jordânia, Omã,
Sudão, Mauritânia, Líbia, Egito e Iêmen.
Vários países árabes, a exemplo da
Tunísia, são governados há anos pelos
mesmos líderes em regimes ditatoriais.
30/01/11
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